terça-feira, 28 de setembro de 2010

água




À uma companheira de um domingo qualquer.


O ar morno junto ao som que soava dos pássaros levava aquela menina a um lugar onde a companhia da natureza ajudava a fortalecer o seu âmago. Os peixes, que ali dançavam um maravilhoso balé, faziam com que a garota de lisos cabelos castanhos esquecesse todos os problemas que a seguiam. Manchas arroxeadas espalhadas por todo seu corpo não demonstravam sinal de dor alguma naquele lugar. Nem mesmo suas olheiras conseguiam fazer com que a tranqüilidade do momento desaparecesse. Enquanto o sol se despedia, o céu de um azul doce e infantil ganhava tons suaves de laranja crepúsculo. E os resquícios de luminosidade quente refletiam e evidenciavam um objeto que estava em uma de suas mãos.

O dia se fora e a lua, já em companhia da jovem, não impedia que o objeto perdesse seu brilho. Ela esticou o braço e sentiu as pontas dos seus dedos encostarem-se à textura áspera e gélida daquela terra muitas vezes tocada, mas só agora percebida. De imediato, com a mão que tocava a terra, cavou um buraco com espaço suficiente para suportar o tamanho e o peso que em cada feixe de luz emitia uma tristeza. Além do receio, a coragem e a convicção de uma vida melhor a impulsionou a soltar o que estava em sua mão. A transparência de uma água límpida e salgada escorria sobre a pequena abertura feita na terra. E um meio sorriso demonstrava o primeiro sinal de leveza que há muito tempo não se fazia presente.

Seu olhar vazio ainda pedia por um último desejo. Roupas foram deixadas, e seu corpo, de uma pureza pueril, ia em direção a um lugar onde os seus singelos caprichos podiam ser realizados. Estava perto de findar seu maior tormento: a solidão. Quando deu por si, estava cercada por um silêncio surreal. Fez-se submersa, mas a companhia que antes não tivera, agora, não desmanchava seu sorriso. E mesmo com a privação de qualquer ruído, ela preferiu estar e dançar com quem sempre lhe ouviu.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

carne e ação


E o que agora permanece no coração das pessoas são os verdadeiros ensinamentos que este homem passou. Sábio era ele, que doava o seu suor por toda uma família. Quantas histórias para contar, quantas que ele contou. Viveu bem. Sorriu feliz. Foi teimoso, sofreu calado. Amou, e como foi amado. O bom velho que não havia um só jovem que não o admirasse. Hoje não respira, mas padece dentro de todos.

O sentimento saudade, e o vento da sabedoria que há de perpetuar: uma nova vida vem aí!

domingo, 19 de setembro de 2010

atire a primeira pedra, por favor


Eu não consigo segurar a caneta e colocá-la com firmeza no papel, ando meio trêmulo. Minha fragilidade aumentou muito. Eis aqui, as palavras mais sinceras até hoje colocadas neste ambiente.

Sinto-me dentro de uma jaula. Entendam, eu sou um menino, não um animal. Quero apenas continuar a viver a minha vida, sem ter medo de sair de casa, sem ter medo de conviver com meus amigos. Não desejo tanta maldade assim, mas se a felicidade já é objeto de luxo, pra que complicar mais ainda? Sou apenas uma gota, é o que dizem. Escorrendo daqui até ali, até se perder em um canto qualquer e não ser lembrado, ou então, ser lembrado por alguma coisa retardada. Como se já não bastasse prender meus pés a este chão imundo, não consigo mais me perder nos pensamentos alheios, vocês ficam me bloqueando, me controlando. Eu suplico, eu imploro, deixem-me pensar, deixem-me andar, deixem-me destruir tudo o que eu quiser. No fundo, eu só quero o bem.

Iguais em tantas coisas, então porque essa dificuldade de se comunicar?

Controlado. Reduzido. Menosprezado. Transformado. Constrangido. Subjugado. Limitado. Diminuído. Convertido. Abandonado.
Vencido.

Seja como for, estarei aqui, disposto a tudo.

Eis aqui, as palavras mais ordinárias.

Corte-me a cabeça!

domingo, 12 de setembro de 2010

o brilhante que partiu


O teu sorriso me maltrata. As noites estreladas junto ao seu lado eram mais monótonas e sinceras. A água límpida e salgada era acalmada com um beijo, e como eu o quero de volta. Eu sou apenas um pobre amador, não é mesmo? Nossos olhares já não se encontram no céu, e a sua voz fica distante demais. Seu toque direto e sincero fica apenas na lembrança. Tanto desafeto para um sentimento claramente abalável, é justo? Nunca me imaginei assim, como um aprendiz do teu amor. Quero a força da batalha inconstante ao nosso lado. Um telefonema é muito pouco. Até a neve já foi embora. Não suporto. Você e seus sete mil amores, e nenhum espaço para mim. Dá-me tua boca, teu corpo, tua alma.

Eu te quero.

tempo ao que não pertence ao tempo


Não tomava banho. Adorava lenços umedecidos. Divertia-se assistindo programas de TV, mesmo que a televisão permanecesse desligada. Sentada no sofá, fumava charutos importados, comia pepinos, e conversava com pessoas que, para os outros, não existiam. Cantava obras dramáticas que ela mesma inventava. Marcava encontros consigo mesma. Mascava calcinhas. Não depilava as axilas e, em ocasiões especiais, tinha noites românticas com seu abajur.

Seu nome era Tânia, e ela se jogou do seu apartamento por vícios, desamores e muito rancor.

Seu destino será arder. Aos poucos ela irá se acostumar com a dor, e sua luxúria irá apenas comover.

Tão amada Tânia, tão.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

parte do princípio que eu já fui


Sem esquecer, em nenhum momento, dos passos mágicos que salvam a noite de qualquer pessoa, a boa dança, apreciada por qualquer pessoa e sugerida por quem vos escreve.

(o que se faz)

As paredes realmente se mexiam e afundavam. Não havia nada que não tivesse vida. Um tanque de roupa, um pacote de macarrão e muita artificialidade pelo ar - muita fumaça pelo ar. Som do rock da paz, e uma cama que se move. Queima de cabelo. Chocolate com as malditas nozes lutadoras. Risadas distorcidas. Aspirais num movimento repetitivo e um quinto elemento (alguém não deseja respostas especiais sobre suas amizades). Perda de memória excessiva e ansiedade.

(o que se insiste)

Sangue para as meninas e liberdade de poder correr para os meninos. Expressão de todas as formas. Pessoas existem de uma forma única, e os outros tem que saber deter seus pensamentos e expandi-los. Outra língua, muitas máscaras. Mão onde não deve, e suas consequências. Gritos, e vaidades e novidades. Corpos esculturais ao encontro de qualquer outro e um convite recusável. Fazia frio, fez frio e fez meu dedo quebrar e meu pé torcer e meu coração tremer.

(o que se sente)

O vento permaneceu contrário, mas a menina dos sapatinhos amarelos não maternos, partiu. Não digo partir por algum motivo drástico, ou alguma razão intolerável pela qual talvez alguém possa ficar ofendido ou amargurado, e sim, por necessidade, por viver. O momento era único, e consideravelmente pequeno para os sentimentos presentes. Olhos não mais secos, e um abraço como consolo. Talvez, aqueles homens tenham mesmo a razão: o ser humano aumenta e humaniza muito um sentimento que era para ser passageiro e normal. Tão pequena ela, na minha mão, pulava e sorria e chorava e amava, e hoje voou. Uma nota. Um acorde. Um instrumento qualquer, e a cura.

Os gatos copulam debaixo da minha casa.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

aprenda com ele


Seus olhos vermelhos farejavam a presa. Sem muita demora, ele atacou, nhac.