segunda-feira, 30 de agosto de 2010

do jeito que eu queria


Está decidido, Joana não irá ter um final feliz. Sem razão nenhuma, ela terá o seu destino traçado desde já. Imagino uma morte não tão sofrida, mas que seja desastrosa. Talvez seu marido a empurre da escada, ou talvez ela se mate, não sei bem ainda. O que eu sei é que Joana é a representação viva de todas as aflições de Phillip. Pobre Phillip este que sofreu com as palavras malditas de uma pessoa incomum.
A xícara irá se partir em sete partes, sendo que a alça será apenas uma parte e ficará intacta. O resto não importa, o resto é só caco. Haverá uma semi ponta meio aguda que irá penetrar em alguma coisa. Teremos sangue, e aplausos. Risadas terão que ser contidas, o respeito deverá se fazer presente. Joana saberá de tudo desde o início, mas mesmo assim conseguirá fingir surpresa para todas as situações. Ela não terá uma cor definida, poderá se camuflar.

Joana preferiu um momento só antes de seu fim, por favor, respeitem-a!

domingo, 29 de agosto de 2010

isso se chama qualquer


Seus acordes já me complicam.
E pra que esse olhar tão faminto?
Gostava de quando eu brincava ser fazendeiro com o meu primo João.
Sempre tinha algum cachorro para vir e sumir com um boi, ou uma vaca.
Em agosto sempre tinha a festa do bairro, e eu adorava a pescaria.
Minha família bebia, e eu só olhava.
Eles brigavam, e eu só sentia.
Eu era outro.
Hoje eu ainda queria ser o luquinhas, filho da sandra, irmã da rose, mulher do mazola.
Eu ainda queria ver o boi de mamão e não sentir nada além de graça e diversão.
Quero ser engolido pela bernunça.
Quero chegar em casa e mostrar pela décima vez o que eu ganhei na pescaria para a minha mãe.
Quero bolo de chocolate sem alcool.
Quero ar puro.
Não quero ter que escolher.


Com quem anda minha camiseta?




quinta-feira, 26 de agosto de 2010

sem assunto


Eu tenho lá os meus problemas com as poesias, mas no fundo eu sei que não são elas as responsáveis pela maior parte de minha dor. Quando eu atravesso a rua, por exemplo, tenho vontade de ficar esperando o carro chegar mais perto, bater em minhas pernas para que eu bata com toda a força contra o vidro. Iria doer, eu sei. Mas as poesias também doem, e mesmo assim são poucos os que as culpam. Essa grande quantidade de respeito me incomoda, e essa porcaria de ciúmes é pura bobagem para a minha cabeça. Sempre acabo permanecendo entre dois pontos que ficam emitindo raios adversos entre si. Eu canso. Talvez a salvação seja mesmo a poesia, ainda que doa. Ou então, talvez não haja nada nem ninguém capaz de falar o que eu quero ouvir.

Não há comunicação.

Esbanjando grosseria

terça-feira, 24 de agosto de 2010

eu aposto o oposto


São tantos pontos que eu utilizo.
Tantas possibilidades..
Onde estão aquelas bocas de condão que não me permitem sequer raciocinar?
Lábios grandes estes teus que me abrigaram.
Ainda sinto o seu perfume, e te vejo no banheiro.
Porque você não fala?
Sua imobilidade me incomoda.

Saia desse corpo, desça dessa alma, venha pra perto.

Grite por algo maior, largue estas drogas.
Sorria para mim,
não morra.

Quero ao meu lado, mesmo sem palavras.
Quero teu corpo, quero teu raciocínio, quero tua alma.
Escolha-me.


Pontua-me.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

mulher de uma leitura


O ônibus não estava cheio. Não era tarde. Não tinha sol, mas ela resolveu sentar ao meu lado. Tinha um livro de capa laranja rasgada, uma bolsa costurada a mão, um anel com uma pequena pedra cor de esmeralda, e um perfume com aroma atraente que resistiu o dia cansativo. Não tinha nome. Tantos detalhes capazes de serem percebidos apenas de canto de olho. Não conseguia evitar.
Percebendo que estava sendo examinada, esboçou um meio sorriso. E como mágica, minha boca afrouxou e imitou. Estava mais à vontade, e arrisquei me ajeitar no banco. Mais alguns minutos, e descemos no mesmo ponto. Quase que lado a lado, olhares eram lançados sem muito medo. Minha rua estava ali, e a dela de frente para a minha. Antes que eu ficasse desapontado, ela fez sinal para que eu a seguisse. Chegamos em seu chalé, e ela interrompeu os momentos da imensidão silenciosa. "Quer café?" "Sim, eu quero, obrigado." Sentamos cada um em uma poltrona, sem nada a dizer - não era necessário. O café tinha acabado, eu estava quente. Ela tirou a roupa, ligou o chuveiro e ficou a se banhar. E eu, um tanto quanto desajeitado, tirei apenas o tênis e entrei assim mesmo ao lado dela.
Sorrimos. Tirei a roupa. Nos tocamos. E o seu beijo delicado, sensível e amável me provocava. Ainda molhados, fomos pra cama. Um edredom grosso e macio nos cobriu, e meu corpo por cima do dela pedia por uma resposta. Beijos no pescoço, e a estranha sensação de sentir um cheiro e querer outro, de ter um corpo e querer outro.

Parei.

Fiquei a olhar no fundo de seus olhos, e por um instante ela hesitou em sentir medo. Em minha mente veio a realidade: estava eu com uma mulher de idade superior, em um chalé qualquer, exalando uma quantidade gigantesca de afeição.
Saí da suposta realidade, passei a mão em seus cabelos encaracolados e retornei. Rolávamos pela cama, pelo tapete. Ela querendo, e eu aceitando. Suspiros, mordidas e carinhos. Fomos felizes naquele momento, sorrimos de alegria.
Recompondo-me, ouvi um miado. Uma gatinha de pelo branco se esfregava dentre as minhas pernas. Tomei mais uma xícara de café. Abracei, beijei e fui embora.

domingo, 22 de agosto de 2010

dia


fazia tempo que eu não sonhava com você

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

gratuito


É tão gracioso, e remoto quando você está em um elevador lotado, e de repente ele para, abre a porta, e por de trás dela temos pessoas com aquela cara pasma de: jesus, quanta gente. E quantas vezes eu não quis começar a conversar com qualquer um daquele mesmo elevador. Quantas ideias, quantos destinos ali um dia cruzados. Mas não, minha sede é maior. Permaneço com os mesmos, fazendo a mesma coisa, mantendo a tradição. Um pouco feliz, mas nem tanto satisfeito. Com os amigos, seja eles jogados nas calçadas por aí, ou não.
Apenas relato um acontecimento qualquer, sem muito fundamento ou pertinência. Sugiro bolacha de limão com um copo de água. Mas que estranho, está escuro. Vou deitar meus pés, e suspirar meu desencantamento sem muita repugnância, sendo apenas esta coisa.



- Mas que estranho, onde está você?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

nosso ritmo


Seus cabelos voavam pelo salão. Seu compasso quase que absoluto roubava a atenção de qualquer pessoa que passava por ali. Alguns acordes a mais, e todos continuavam a contemplar a leveza e a beleza, de uma dança, de uma mulher.
Um espetáculo que era só nosso. A nossa rápida lentidão contrariando a equação singela que fez com que um dia os nossos opostos continuassem opostos, e nossos olhares permanecessem cegos ao tempo.
Tudo não tem tempo. Nossas idas e vindas, discretas e indiscretas, bailando ao infinito. E eu, sua principal personagem, vivo em uma eterna atuação sem limites.

Minha dança tem palavras.
Sua dança tem olhares.

E o resto é só resto, é a troca de carinho e afeição, é a perfeição do seu olhar com a tradução de minhas palavras.


O resto, somos nós.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

esqueleto antigo


Não como antes, mas ressurgiu. As aflições voltaram, as mãos tremendo novamente, e a minha cara de paisagem não existe mais. Desafetos não mais afetam, desânimo somente anima, e sempre com um sorriso largo. Não posso tocar, mas saber que ela voltou é tão gratificante. Isso anula minha dor no braço, elimina a oleosidade da minha pele, desembaraça meus cachos inexistentes e faz com que minha tolice de viver só aumente. Perco o sono, ouço qualquer música, danço valsa, como pedras, e não procuro nada. Apenas comunico dizendo que ela voltou! Dançaria um tango, mas não sei nem ao certo descrevê-lo. Estou bobo, idiota, com saudades, de algo imaginário, novo. Que seja verdade, que valha a pena.


Que exista!


terça-feira, 17 de agosto de 2010

cotidiano

Vai mais devagar, pediu a pobre menina inocente.
Não consigo, respondeu o menino voraz.
Por favor, insistiu a pobre menina inocente.
Cala a boca, ordenou o menino voraz.
Você não era assim, indagou a pobre menina inocente
Eu sempre fui assim, afirmou o menino voraz.
Sai de cima de mim, pediu a pobre menina inocente.
Aproveita, relaxou o menino voraz.
Canalha, chorou a pobre menina inocente.
Sua puta, gritou o menino voraz.
Te odeio, amedrontou a pobre menina inocente.
Eu te amo, matou o menino voraz.

Quem morreu?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

o mundo filé milanesa


Não se esconda, Shirley!

A segunda-feira começou sem feira, eu digo e repito, sem feira!
Nada faz sentido, as pessoas ficam mais sem graça do que o comum, e é incrível pegar um ônibus e ouvir todos falando a mesma coisa que falaram no mesmo dia na semana passada.
Abusar do auto-retrato, seja com hífen ou não, é outra experiência interessante.
Talvez eu seja mesmo um fudido, mas e daí?
Um isqueiro? sim, eu tenho.
E tanta gente morrendo. E tanta gente atuando.
Tendão de Aquiles. Enxaqueca. Culpa. Desfile.

Não tenha medo, Shirley!

Mais tarde quem sabe eu consiga entender a função de tantos pombos na face da terra.
Seco não, prefiro molhado.
Nada faz sentido, as pessoas não se entendem. Falta comunicação. oi?
Dinossauros pra quem quiser deixar a imaginação fluir.
Cachos inoportunos estes seus que não compreendem ninguém.
Mãos pegajosas estas suas que não deixam nada cair.
Pés desconexos estes seus que não seguem o caminho certo.
O mundo é pequeno pra caramba.

Siga na direção contrária, Shirley!


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Seja feliz, Shirley.

domingo, 15 de agosto de 2010

um sujeito seguidor


James sempre sentiu fome,
James sempre sentiu sede,
James sempre quis alguém.

James sempre saciava sua fome,
James sempre saciava sua sede,
James sempre tinha alguém.

Pobre James que comia os restos,
Pobre James que bebia qualquer coisa,
Pobre James que sempre era abandonado.

Eu aqui, James lá.
Eu aqui no quente, James lá no frio.
Eu aqui saciado, James lá na calçada necessitado.

Queria eu ser James para saber como é.
Queria eu ser James para saber como é.
Queria eu ser James para saber como é.

A carência de James, e a minha loucura.
O sofrimento de James, e a minha insatisfação.
A vida de James, a vida de cão.


domingo, 8 de agosto de 2010

Voando amarelo

Risadas: eu quero as mais ricas e tocantes. Cores: eu quero as mais falsas e instigantes. Pessoas: não é necessário. Sentimentos: tudo aquilo que for sentido.
Eu desenho o meu próprio cenário, e transcrevo ali, uma trajetória nunca vista antes. Exponho na forma viva das palavras, todas as minhas vontades e loucuras, medos e vergonhas. Fazer. Falar, e amar.
Desde já eu confesso o meu problema com as vírgulas, e com o fígado. E quanto a minha imaginação, desprezo qualquer tipo de controle. Amarelo mostarda. A culpa não é sua, e nunca será! E não se preocupe, você não é a pessoa certa!
Começo a lembrar daqueles pés quentes, recém saídos do aconchego de uma cama macia, que tocaram o chão gélido e transformaram o calor coporal em uma grande onda de aflição intransitiva. E eu, apenas cuspia em forma de uma revolta, para que refletisse ao ponto de mudar a direção do seu olhar. Aos que te julgaram, coube o direito de manter a boca fechada enquanto eu me destruía cada vez mais.

FALTA-ME LUZ!
Minhas mãos choram. Minha barriga sorri. Meu coração engole. Meu pulmão enxerga. Minha boca imóvel, e sua pele sensível e viciante.

Insistência maldita esta sua de se meter nos meus desafetos. Eu não queria que fosse assim.
Olhos perversos os seus que continuam por não me enxergar. Metade de mim é maldade, e a outra também.
Abuso da máscara que me envolve. Mais uma dose, e poucas pessoas no estacionamento. Sigo, faço, e vivo: nessa viagem que não encanta a ninguém.
Os pés não esquentaram. Logo o sol começa a surgir. Tem pessoas à minha espera, estou atrasado. Alguns andares acima. Vermelho vivo. Uma cadeira. Dez segundos. Uma janela aberta. Brisa. Que vontade de voar.
FALTA-ME CHÃO!