segunda-feira, 23 de agosto de 2010

mulher de uma leitura


O ônibus não estava cheio. Não era tarde. Não tinha sol, mas ela resolveu sentar ao meu lado. Tinha um livro de capa laranja rasgada, uma bolsa costurada a mão, um anel com uma pequena pedra cor de esmeralda, e um perfume com aroma atraente que resistiu o dia cansativo. Não tinha nome. Tantos detalhes capazes de serem percebidos apenas de canto de olho. Não conseguia evitar.
Percebendo que estava sendo examinada, esboçou um meio sorriso. E como mágica, minha boca afrouxou e imitou. Estava mais à vontade, e arrisquei me ajeitar no banco. Mais alguns minutos, e descemos no mesmo ponto. Quase que lado a lado, olhares eram lançados sem muito medo. Minha rua estava ali, e a dela de frente para a minha. Antes que eu ficasse desapontado, ela fez sinal para que eu a seguisse. Chegamos em seu chalé, e ela interrompeu os momentos da imensidão silenciosa. "Quer café?" "Sim, eu quero, obrigado." Sentamos cada um em uma poltrona, sem nada a dizer - não era necessário. O café tinha acabado, eu estava quente. Ela tirou a roupa, ligou o chuveiro e ficou a se banhar. E eu, um tanto quanto desajeitado, tirei apenas o tênis e entrei assim mesmo ao lado dela.
Sorrimos. Tirei a roupa. Nos tocamos. E o seu beijo delicado, sensível e amável me provocava. Ainda molhados, fomos pra cama. Um edredom grosso e macio nos cobriu, e meu corpo por cima do dela pedia por uma resposta. Beijos no pescoço, e a estranha sensação de sentir um cheiro e querer outro, de ter um corpo e querer outro.

Parei.

Fiquei a olhar no fundo de seus olhos, e por um instante ela hesitou em sentir medo. Em minha mente veio a realidade: estava eu com uma mulher de idade superior, em um chalé qualquer, exalando uma quantidade gigantesca de afeição.
Saí da suposta realidade, passei a mão em seus cabelos encaracolados e retornei. Rolávamos pela cama, pelo tapete. Ela querendo, e eu aceitando. Suspiros, mordidas e carinhos. Fomos felizes naquele momento, sorrimos de alegria.
Recompondo-me, ouvi um miado. Uma gatinha de pelo branco se esfregava dentre as minhas pernas. Tomei mais uma xícara de café. Abracei, beijei e fui embora.

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